Se você ama cozinhar, provavelmente já vivenciou esta cena: ao provar um prato famoso de alguém da família, você confirma sua excelência e pede a receita. De posse dela e de várias dicas, explicações e até mesmo segredos revelados, você tenta reproduzir o prato em sua casa. Aí vem a decepção: apesar de ter seguido todos os passos, o resultado final está a anos-luz do original.Surgem os questionamentos. Será que segui as etapas corretamente? Será que era este o ponto ideal? Onde eu errei? As perguntas podem ser muitas, mas a resposta é apenas uma: Conhecimento Tácito. Seja em nossa vida cotidiana ou no trabalho, reconhecemos que pessoas com muita experiência alcançam resultados superiores do que aquelas menos “vividas”. Os motivos para isso variam, indo desde a antecipação de problemas e riscos que iniciantes não conseguem perceber, a “atalhos” em processos que facilitam a vida. Porém, se você perguntar à pessoa experiente como ela consegue tal façanha, é provável que ela encontre dificuldades em explicar e responda com frases como: “são anos fazendo isso”, “já fiz inúmeras vezes” ou, ainda, “é pela minha experiência”. Esta justificativa surge pela própria natureza deste tipo de conhecimento.
Antes de mergulhar no Conhecimento Tácito, vamos entender o que é o Conhecimento Explícito
Conhecimento Explícito: livros, manuais, guias e procedimentos.
O termo “explícito” se origina do latim e significa “aquilo que é expresso sem dúvidas nem ambiguidades; claro, manifesto, categórico”. Lembra da receita? Ela representa o Conhecimento Explícito, pois nos permite acessar uma descrição relativamente detalhada de como preparar um prato. Ou seja, é uma espécie de algoritmo que vai desde a lista de ingredientes até instruções sobre o modo de preparo, passando por outros diversos dados importantes como a temperatura correta do forno, o tempo de cozimento ou o ponto certo para seguir para a próxima etapa do preparo.
Assim, o conhecimento explícito é aquele que é possível ser codificado, transformado em padrões, regras, procedimentos, manuais e livros. É também através dele que é possível criar processos de automação e mecanização, por exemplo. Este conhecimento está associado à educação e treinamentos formais, que exigem leitura, estudo, assistir a vídeos e entre outras formas. Entretanto, este tipo de conhecimento que sim, é muito importante, tem também suas limitações e é incapaz de resolver todos os problemas que surgem. Ele falha, especialmente, em suprir uma expectativa da grande maioria das organizações: capturar o Conhecimento Tácito e colocá-lo em suas “melhores práticas”. Quem nunca ouviu frases como a teoria na prática é outra? Ou que uma receita não faz um bom cozinheiro? Ou seja, apesar de relevante, o conhecimento explícito é insuficiente tanto para enfrentar as dificuldades do dia a dia, como para superar alguns desafios estratégicos. Para isso, você e sua empresa precisarão aprender a gerir também o Conhecimento Tácito, tornando-o um dos seus diferenciais competitivos.
Afinal, o que é o Conhecimento Tácito?
Etimologicamente, o termo “tácito” vem do latim e significa “não expresso em palavras” ou “silencioso”. Assim, tácito pode ser qualquer ação, expressão ou percepção que uma pessoa realiza sem ser capaz de explicar ou articular conscientemente. Ou seja, muitas das atividades que sabemos fazer, simplesmente não conseguimos explicar como as fazemos — pelo menos, não de uma forma objetiva, que possa ser simplesmente replicada por outros.
Geralmente nos referimos a isso como “intuição”, mas o Conhecimento Tácito é construído por meio da experiência concreta das pessoas em uma determinada atividade adquirida através do tempo, com anos de prática. Ele está encapsulado no corpo de quem o desenvolveu, mas não é acessado no nível consciente, se manifestando quando precisamos agir para responder ao que uma situação específica demanda de nós. É impossível ser traduzido em padrões, regras e procedimentos e sua aprendizagem está mais associada à prática, ao fazer, e a processos sensoriais, como tato, visão ou audição, em adição ao mental.
Tudo isso faz dele um conhecimento (quase) impossível de ser transferido de uma pessoa para a outra, como vimos na receita clássica da família ou quando aprendemos a andar de bicicleta… no trabalho, podemos citar o exemplo daquele expert da manutenção que identifica um problema imediatamente ao ouvir o ruído que vem de um equipamento.
O Conhecimento Tácito não é único. Há três tipos diferentes dele: contingencial, somático e coletivo. Como este artigo é introdutório, não vamos nos aprofundar neles aqui, mas convidamos nossos leitores curiosos a conhecerem o nosso próximo conteúdo.
Conhecimento Tácito: experiência, prática, teste, socialização, vivência.
Conhecimento Explícito versus Conhecimento Tácito
A receita de família é um ótimo exemplo para entender como ambos os conhecimentos se articulam na vida real. Ler e estudar a receita é o conhecimento explícito. Fazer o prato é o Conhecimento Tácito.
Essas duas formas de conhecimento não se antagonizam ou concorrem; pelo contrário, se complementam, se potencializam e cada uma delas tem o seu protagonismo, suas aplicações e seus limites. Ter a receita é bem importante, mas não é tudo. Você precisa testá-la várias vezes e, não obstante, ter ao seu lado o familiar que detém a expertise para fazer o prato.
Por outro lado, depender exclusivamente da prática para aprender pode restringir o desenvolvimento contínuo. Além disso, a memória humana tem suas limitações, o que torna pouco eficiente confiar nela para todas as situações e tarefas.
Por que as empresas estão errando na Gestão do Conhecimento Tácito?
O grande problema é que, como mencionamos, por não saberem lidar com a complexidade que envolve a gestão do Conhecimento Tácito, as empresas focam suas ações, recursos e esforços única e exclusivamente na Gestão do Conhecimento Explícito, esperando que ele resolva tudo.
As organizações tentam fazer isso através de padronização e treinamentos com base em suas “melhores práticas” e pelo desenvolvimento de automações e sistemas computacionais que embutem regras em seus algoritmos. A intenção por trás disso é que qualquer pessoa que seja treinada nos padrões e no uso dos sistemas atinja rapidamente a qualidade e a produtividade dos experientes.
Mas não é isso que ocorre na prática. A curva de aprendizado geralmente é lenta e cheia de percalços. Fato é que as regras e procedimentos são insuficientes para alcançar o mesmo desempenho de um profissional experiente.
O ralo por onde a expertise escoa
Outro fator significativo que impacta os resultados das empresas é a saída ou aposentadoria de profissionais experientes, que são referência em suas funções. A perda daquele conhecimento acumulado é sentida pelas áreas de Operações, Segurança e Recursos Humanos, unindo-as em torno da mesma dor e com impactos reais no dia a dia.
Este problema confronta as lideranças a encararem um obstáculo comum: a natureza intangível do tácito impede uma gestão da expertise estruturada, que permita uma atuação preventiva nesses casos. Basicamente, as empresas e seus gestores desconhecem as ferramentas para, por exemplo, mapear esse conhecimento ou transferi-lo dos experientes para os novatos, acelerando a curva de aprendizado. E isso tem de ser feito de modo a garantir uma cobertura segura em todos os sistemas e processos, já que o Conhecimento Tácito está presente em todos os lugares da organização.
Gestão do Conhecimento Tácito nas empresas
Sabemos que ter expertise em todos os níveis de uma organização é garantia de maior qualidade, menor custo operacional e elevada segurança no trabalho. Além disso, juntamente com a expertise, vêm as habilidades para antecipar e prevenir erros, problemas e acidentes, lidar com imprevistos rapidamente e identificar oportunidades de melhoria que outros não enxergam.
Por isso, podemos dizer que a Gestão da Expertise, tendo por trás o foco no Conhecimento Tácito, é estratégica tanto pelo que promove quanto pelo que é capaz de evitar. Ela vem demonstrando resultados impressionantes no enfrentamento de problemas para os quais as empresas já tentaram de tudo para resolver.
A Situated se tornou a primeira e única consultoria especializada na Gestão da Expertise para grandes empresas, trazendo soluções inovadoras aos diferentes setores produtivos. Compartilhe seu desafio conosco. Nossas soluções são feitas sob medida para cada cliente e necessidade. Até breve!